Consciência Negra: onde Toni Morrison encontra Carolina Maria de Jesus
Como Djamila Ribeiro transforma sua formação em legado público
Na Avenida Chibarás, no bairro de Moema, em São Paulo, existe um espaço onde a geografia se dissolve nas prateleiras. Ali, a norte-americana Toni Morrison — primeira mulher negra a vencer o Nobel — “conversa” com a brasileira Carolina Maria de Jesus. A biblioteca não é apenas um acervo; é uma reunião deliberada de saberes que, por muito tempo, foram mantidos distantes do centro do cânone literário. No Instituto Feminismos Plurais, presidido por Djamila Ribeiro, essa curadoria não é decorativa: é uma ferramenta de construção de futuro, conectando passado e presente.
Da Leitora em Santos à Fundadora em SP
A existência da Biblioteca Toni Morrison é, antes de tudo, um gesto de retribuição histórica. Décadas antes de se tornar uma autora best-seller e professora convidada do MIT, Djamila Ribeiro teve sua visão de mundo transformada justamente dentro de uma biblioteca — a da Casa de Cultura da Mulher Negra, em Santos, que levava o nome de Carolina Maria de Jesus. Foi lá que a filósofa brasileira acessou as palavras que explicavam sua própria realidade.
“É uma autora que descobri no final da minha adolescência. Eu trabalhava em uma organização chamada Casa de Cultura da Mulher Negra, em Santos. E por mais que eu já viesse desse meio de militância, porque meu pai era militante, eu não conhecia a Carolina. Só fui conhecer justamente porque nessa organização tinha uma biblioteca e o nome da biblioteca era Carolina Maria de Jesus”, revelou Djamila em entrevista ao Jornal O Estado de S. Paulo, no último dia 20 de novembro.
Hoje, o ciclo se completa. Ao manter as portas abertas de sua própria biblioteca em São Paulo, Djamila transforma sua trajetória individual em infraestrutura coletiva. O espaço foi pensado para oferecer exatamente o que é negado a grande parte da população negra e periférica: não apenas o livro, mas o direito ao silêncio, o acesso à internet e um teto acolhedor para passar o dia estudando.
“Pensar em ações antirracistas, necessariamente, passa por criar espaços em que se possa compartilhar conhecimentos. Entendemos essa iniciativa por essa perspectiva, mas também como um espaço de acolhimento: para muitas pessoas, a depender dos lugares sociais que partem, um lugar silencioso para estudar é fundamental”, escreveu, em post no Instagram, no Dia da Consciência Negra, 21 de novembro.
A Curadoria: Uma Genealogia Intelectual
A seleção das obras reflete o que Djamila chama de referências essenciais. O visitante encontra desde a poesia cortante de Audre Lorde e a sensibilidade de Conceição Evaristo, até a filosofia de bell hooks e Simone de Beauvoir. O acervo materializa a ponte que a hoje professora do MIT constrói em sua carreira: conectar o pensamento crítico brasileiro com o mundo, como visto em sua amizade e troca intelectual com a nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie.
Um Espaço de Permanência
Mais do que um local de passagem, a biblioteca é um convite à permanência. Com clube do livro (“Mulheres que se Escrevem”), computadores e acesso gratuito à internet, o espaço reafirma o compromisso do Espaço Feminismos Plurais com a democratização da leitura. Enquanto Djamila leva o pensamento brasileiro para fora do país, a Biblioteca Toni Morrison garante que, em São Paulo, o legado dessas mulheres permaneça acessível, vivo e, sobretudo, de portas sempre abertas.
AGENDA ESPECIAL
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Pela primeira vez, o Clube do Livro “Mulheres que se Escrevem” terá um encontro aberto ao público no Espaço Feminismos Plurais. Se você estiver longe, haverá transmissão online.
📅 Quando: 24/11, segunda-feira. Recepção às 18h30.
📍 Onde: Espaço Feminismos Plurais: Avenida Chibarás, 666, Moema – SP.
🎟️ Ingressos: Gratuitos (retirada pelo link na bio do Instagram ou nos stories).
💻 Transmissão: Ao vivo na página da @feminismos.plurais.
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