Ribeirão Preto viveu uma noite histórica no sábado, 16 de agosto. Durante conferência no palco do Theatro Pedro II, na abertura da 24ª edição da Feira Internacional do Livro (FIL), a Professora Djamila Ribeiro foi agraciada com o título de cidadã ribeirão-pretana. Personalidade homenageada neste ano, Djamila foi ovacionada de pé por uma plateia lotada.

A outorga da honraria foi proposta pela vereadora Duda Hidalgo (PT). “Você escolheu não deixar o conhecimento restrito à academia. Você é uma educadora popular também, porque optou por difundir esse saber e transformar as suas palavras em luta, imortalizando-as em livros.”

Em sua fala, Djamila rememorou os silenciamentos que enfrentou ao longo do percurso acadêmico. “Quando eu questionava meus professores sobre a ausência de vozes femininas, sobre a ausência de vozes negras, eu recebia como resposta que isso não era filosofia”, destacou a filósofa brasileira e, atualmente, professora convidada do MIT.

A declaração de Djamila abriu espaço para uma reflexão sobre o apagamento do pensamento negro nos currículos universitários. “Não estou dizendo que não é para ler o norte global. Muito pelo contrário. Estou dizendo que a gente precisa parar de colocar a Europa como centro, ou os Estados Unidos como centro”, afirmou, ressaltando a importância do trabalho coletivo para a ampliação de perspectivas historicamente marginalizadas. “Lugar de Fala, meu primeiro livro, publicado em 2017, nasce dentro de uma coleção. Porque não fazia sentido vir sozinho. De lá para cá, já são 14 títulos da Coleção Feminismos Plurais e, contando com todos do Selo Sueli Carneiro, são 27 obras lançadas, todas escritas por pessoas negras. Esse é o compromisso que a gente precisa assumir, com a nossa produção”, finalizou.

Homenagem em série

Nas redes sociais, a FIL veiculou uma série especial sobre Djamila, conduzida pela estudante de jornalismo Mirella Archangelo. Ao longo de três episódios, Mirella conversou com lideranças locais, educadoras e empreendedoras sobre o impacto das ideias da intelectual em suas trajetórias.

Futuros Possíveis

O tema da FIL, neste ano, foi Futuros Possíveis. Ao destacar a escolha de Djamila Ribeiro como autora homenadeada, a curadora Adriana Silva observou que “não é possível falar de futuro sem falar de ancestralidade”.

Nas escolas da rede municipal de Ribeirão Preto, as obras da filósofa já integram atividades pedagógicas voltadas à discussão sobre o racismo no Brasil – e suas interseccionalidades.

As homenagens em Ribeirão Preto reafirmam o papel de Djamila como referência intelectual para um presente que projeta futuros com base na coletividade e no pensamento crítico.